terça-feira, 20 de outubro de 2009

Amigo Imaginário

A caminho de casa, todos os dias, à mesma hora, reparo num senhor de idade já avançada, no que parece ser uma loja, quase vazia, à excepção de uma secretária e duas cadeiras.
Numa das cadeiras está este senhor sentado, virado pra rua, e a outra cadeira está à sua frente do outro lado da mesa. Em cima da mesa, está pousado um telefone e escassos papéis cuidadosamente organizados. O senhor permanece imóvel, sentado, a olhar para mesma paisagem, dia após dia.

É uma imobiliária. No meu imaginário, o senhor é reformado, e este trabalho é uma ocupação para os seus tempos livres de reformado. Tenho pena do senhor...todos os dias ali sentado sozinho, aparentemente sem fazer mais nada...a não ser pensar e a contemplar os ecopontos que povoam a paisagem no seu campo de visão.

Pergunto-me, porque não leva um livro pra ler? Obviamente está lá apenas para atender chamadas...Umas revistas?Não? Ou até um computador? Mesmo sem internet...podia jogar o solitário...

Dia após dia observo o senhor, a fim de recolher mais informação, intriga-me vê-lo imóvel, sentado na sua cadeira, com os braços em cima da mesa, as mãos juntas, os dedos entrelaçados. Sinto curiosidade de saber mais sobre a sua vida...Porque razão não adormece? Imagino que seja alguém que não necessite de dormir muito...senão adormeceria concerteza...embora julgue que está lá para isso, nunca o vi a atender o telefone.

Nunca lá vi mais alguém.

Até hoje...

Hoje o senhor tinha companhia!!
Do outro lado da mesa, sentado na cadeira, estava outro senhor, talvez com uma idade próxima à dele. Pareceu-me que se conheciam há já algum tempo, pareceram-me próximos. Talvez amigos, sim, concerteza são amigos.

E de repente, começa a formar-se dentro de mim uma ideia...
Será que, ao fim destes meses, de observação, "criei" um amigo imaginário para o solitário senhor? Será que é fruto da minha imaginação?

Rio-me e fico animada ao observar os dois amigos a conversarem.


3 comentários:

Gisela Luz disse...

Bonito :)**

Daniel disse...

"I regret the times I didn't spend watching the flowers grow"

Junto da minha casa antiga havia uma loja. Era quase uma casota, não tinha nome, não tinha quase nada pra vender (excepto algumas gaiolas de grilos, detergente da loiça de alguma marca pré-histórica, panos, e caixinhas de agulhas), o carro parado (um carocha) do dono lá dentro ocupava quase todo o espaço. Estava lá o senhor todos os dias, ainda bastante novo até, e nunca lá vi um cliente, nem nunca aquele carro saiu de lá, até ele morrer.

Nuno Dias disse...

O "Amigo Imaginário" deve estar a pensar o porquê da menina ainda não ter submetido mais posts. EHEH!! Espero que estejas bem. BJS***